segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sobre a fragilidade da vida

O que nos conecta a este corpo é algo muito sutil. Não vou entrar no mérito que a hora da morte é determinada por algo/alguém superior... não é sobre isso que vou discorrer. E sim sobre a linha tênue que nos mantém vivos. Eu já presenciei algumas mortes. De outras tive notícia. A primeira morte que presenciei foi numa grande emergência do Rio de Janeiro, quando eu era estagiário. Lembro de algumas horas antes, no meio a diversos leitos, ajudá-la a se deitar, pois estava caindo. Horas depois uma amiga me chama... "Thiago... vem cá... tem algo errado...". Nada de pulso. Equipe reunida, foi a primeira vez que revezei com outros para a massagem cardíaca. A noção de tempo se perde, uma hora passa como fossem 10 minutos, e de repente alguém declara que não devemos mais continuar. Formado, presenciei outras mortes em outros hospitais. Madrugadas tensas. E aquela sensação estranha. Recentemente, já como médico, era eu comandando os procedimentos de reanimação. Desfibrilando. E olhando o maldito monitor... por que não volta a bater? Os 40 minutos protocolados estendidos para quase 1 hora e meia... a sala esvaziando... um técnico de enfermagem mais experiente me olha nos olhos e diz: "Thiago, já chega... você fez tudo... até mais do que devia...". O primeiro atestado de óbito. Nada fácil de preencher. Dar a notícia para a família. Sentir a dor como fosse parte deles... responsável. A impotência. A mão que cura nem sempre ressuscita. Noutro caso que não presenciei, um único dia de diarréia matou uma jovem. Sim, diarréia ainda é grande causa de morte, nunca se esqueçam. E agora, neste final de semana, meu cachorro, Draco, fiel companheiro por 13 anos. Ali, em minha presença, ver o fechar dos olhos, o último suspiro... menos de 1 minuto, tão rápido e silencioso, tão tranquila sua passagem de volta às estrelas (Draco é o nome de uma constelação e significa Dragão). Essa é a vida... tão frágil! Num suspiro, basta um último piscar de olhos... e rompe-se a fronteira para o desconhecido. Para o outro lado da vida...

3 comentários:

Aline disse...

O bom de tudo é que podemos recordar o que se viveu/sentiu/sofreu. Nisso temos a certeza de que, aproveitar tudo e todos ao máximo é o melhor caminho, uma vez que, a recordação é o que será eternizado em nós.

Sandra Coronato disse...

Tenho a certeza de que impregnado na alma do Draco ficaram os 13 anos de carinho e amizade entre vocês dois.
E que de forma extremamente especial, você o abençoou com sua doçura e profissionalismo nos últimos minutos...O que nos conforta é saber que ele agora está muito bem.

Danielle disse...

Esses fiéis companheiros quando voltam à casa deixam tanta saudade.
Um carinho inexplicável, maravilhoso, que nos faz muita falta mesmo.