quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Redes sociais - uma reflexão

Outro dia eu estava no divã de minha analista quando notei que eu já havia citado naquela sessão dois eventos ocorridos comigo no Facebook. Nesta semana no ambulatório de psiquiatria atendi uma paciente que contou eventos ocorridos na mesma rede social e que a levaram a uma desestabilização psíquica. Fiquei muito pensativo sobre este novo espaço vivencial que passa a estar presente nas narrativas psicopatológicas de nossos pacientes - e nas nossas próprias. O mundo virtual tornou-se uma extensão de nossas vidas e para os nossos conflitos. As relações sociais estão cada vez mais expostas e flutuam numa realidade paralela, para alguns  tão mais complexa em interação com outros indivíduos do que em suas próprias vidas "reais". A escuta por parte do profissional da área psi deve ser cautelosa, sendo necessário empatia (capacidade de colocar-se no lugar do outro indivíduo) e conhecimento sobre a nova realidade que nos absorve. Estamos vivendo, sem nos darmos conta, em um novo modelo  que possui implicações sobre a maneira como nos expressamos ao mundo externo, como recebemos estímulos, sejam positivos ou geradores de conflitos e frustrações, e de como nosso comportamento social sofre influências. Certa vez ouvi de um psicanalista um conceito, uma teorização, sobre a extensão da consciência. Ele dizia que quando duas pessoas estão conversando, suas consciências estão projetadas no centro espacial entre as duas pessoas. Ali elas, as consciências, se encontram e se comunicam. Trago este conceito para a realidade do mundo virtual a que estamos nos expondo na internet e nas redes sociais. Utilizar estes meios é projetar sua "consciência" para onde milhares estão tendo acesso. É acessar milhares e milhares de outras consciências e de alguma forma se interconectar a elas. Isso não é pouca coisa. Nesta exposição pessoal absorve-se uma infinidade de informações desnecessárias, entra-se em contato com idéias, problemas,   ordens e desordens, conteúdo e lixo, e ao mesmo tempo, coloca-se um pouco de si para os demais. O que estamos absorvendo? O que estamos dando de contribuição para este novo universo? O quanto podemos estar nos deteriorando, ou de que forma pode haver nisso algo de construtivo? O fato desse novo mundo estar se mostrando cada vez mais presente na sala do psiquiatra ou no divã do analista é algo para se pensar e muito seriamente. O mundo que nos cerca, o real, o do nosso próprio imaginário, e agora o virtual, tornam-nos mais frágeis e ainda mais distantes da sensação subjetiva de bem estar e felicidade ao qual passamos a vida buscando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei seu comentário..nada substitui o bom tète a tète. Sinto sua falta no siaf. Já pensei em algumas conexões "virtuais" mas prefiro recordar e aguardar. Quem sabe, agora que conseguiu sair, um dia volte?