sábado, 9 de janeiro de 2010

Bodó


Agora há pouco eu olho pela minha janela e vejo, na esquina, uma mulher fazendo peixes numa churrasqueira.


Fui até lá:
"Quanto custa?"
"Dois reais"
"É bagre?"
"A gente chama de BODÓ"


Comprei um...!

Levei um tempão tentando entender por onde começaria a comer. Tentei abrir a cabeça e não consegui. Fiz uma incisão na barriga, e encontrei um monte de "sei-lá-o-que" amarelado, parecendo ovas, bolinhas estranhas. Percebi que as visceras não haviam sido limpas. Mas... guerreiro de selva... comida é comida! E tem peixe que, por aqui, se come por inteiro, e resolvi arriscar.

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A consistência meio estranha, o gosto de bom para amargo algumas vezes, até depois encontrar a carne só pela área da cauda. Pouca carne, mas até que gostosa.

(Clique para ampliar)

Depois que comi, fiquei cismado de ter comido aquilo e vim pra net, pesquisar no oráculo (google) sobre o tal Bodó. Achei pouca coisa, o melhor numa página do INPA (clique aqui, recomendo a leitura do texto como um todo). Separo as melhores partes para vocês:

- Considerado “o patinho feio” na preferência dos consumidores e pescadores, o Liposarcus pardalis, é conhecido popularmente como acari-bodó
- O acari-bodó é um peixe típico do Amazonas, pois ele não é encontrado em nenhum outro lugar do país.
- Faz parte da culinária cabocla por ter uma carne saborosa e costuma ser apreciado em forma de calderada, assado ou na forma de farinha de peixe, também conhecida como farinha de piracuí.
- Apesar de ser bastante conhecido pela população, ele é secundário na preferência dos pescadores... comparado às demais espécies de peixes amazônicos.
-Eles devem ser consumidos imediatamente após a morte, devido ao rápido processo de deterioração e ao odor insuportável que provocam.
- A causa do mau odor do acari-bodó após a morte: foi constatado que as enzimas fabricadas pelo hepatopâncreas (órgão responsável pela liberação das enzimas do trato digestivo) na zona de transição entre o intestino e o estômago, onde se inicia a degeneração, são as vilãs do processo. Outros peixes também possuem o hepatopâncreas, porém eles não liberam as enzimas com a mesma intensidade, se considerado o mesmo período de tempo, após a morte.
- Após ser pescado ele ainda consegue viver fora d'água devido ao seu estômago, que, ao longo dos séculos, se especializou como um sistema respiratório acessório.
- O correto é manter o peixe entre camadas de gelo, sem as vísceras. Dessa forma, ele chega a durar doze dias, enquanto que se comercializado na forma tradicional estraga em questões de horas.
- O hidrolizado protéico é indicado para o consumo de pessoas que tiveram queimaduras de segundo e/ou terceiro graus pelo corpo e também por pacientes hospitalizados que precisam ser alimentados por sondas, já que a substância é rica em aminoácidos e peptídeos que ajudam na recuperação.
- Há o mito de que o acari-bodó alimenta-se de fezes. No entanto, segundo os testes de coliformes fecais realizados, essa crendice popular não foi confirmada. Durante os trabalhos, o pesquisador conta que fez diversas entrevistas. Em uma delas, um entrevistado explicou como esse boato transformou-se em “verdade”. “Havia dois pescadores, eles estavam com a canoa repleta de peixes. Um deles tinha pescado somente acari-bodó. Para boicotar o concorrente, o que tinha pescado outro tipo de peixe espalhou que o bodó alimentava-se de fezes e o boato ganhou a boca do povo”, explicou.
- Existem várias outras histórias referentes ao bodó. Entre elas, o pesquisador afirma que há pessoas que criam o peixe dentro do próprio banheiro.
- Na tradição indígena há relatos que contam que o bodó vira sapo após perder a calda.
- Para os mais religiosos, o peixe é considerado o sapato do diabo devido à sua aparência nada agradável.
- “Se alguém quiser ter uma animada conversar com um caboclo da região é só falar sobre o bodó. Ele é cheio de mitos, além de ser considerado um fator de identidade cultural do povo”.


5 comentários:

Sandra Coronato disse...

Ai,Ai,Ai...Thiago você resolveu viver perigosamente!Espero que você não passe mal...rs

Unknown disse...

Considerando os arredores da sua janela, esse peixe vai pedir um "convém" mais dia menos dia! =p

Quando você voltar e te perguntarem qual foi sua aventura mais perigosa daqui, pode dizer sem sombra de dúvida que foi a gastronômica!!

edyjrcientista disse...

O Bodó na mais é do que a lagosta do amazonas , sou amazonense e tudo isso contra o bodó só é mito
este peixe eu aprecio muito, ele é em uma boa caldeirada ,é muito gostoso .;..

bio é vida disse...

sabia que tem liposarcus pardalis no piauí- nossa senhora de nazaré-pi,não só na amazonas;

Paulo Spala disse...

Muito interessante a história do Bodózinho, rsrsrs